16 de junio de 2024

APA do Rio São João

2023.

Em dois momentos de 2023, visitei a APA no Leste do Rio de Janeiro, e uma característica que me chamou a atenção foi a presença de dois "níveis" na região. Um primeiro, mais baixo (<20m acima do nível do mar), é uma planície de inundação com influência fluvio-marinha, formada por sedimentos recentes arenosos e os solos provenientes deles (Neossolos, Argissolos e Latossolos). O outro nível, mais alto, é formado por morros cristalinos isolados, formados por rochas do Mesoproterozoico. A composição é típica do planalto cristalino no Sudeste, mas aqui eles estão muito mais dissecados. Dão origem a Cambissolos e Latossolos.

A planície de inundação, correlata àquela onde se desenvolve o centro do Rio de Janeiro, foi vista por Ab'Saber como uma evidência de um aumento do nível do mar no Holoceno inferior. De fato, isso explicaria a natureza dos sedimentos e o quão arrasados estão os morros. É fácil imaginar essa área totalmente alagada, cada morro sendo uma pequena ilha.

Na parte alta (Parque Ecológico Mico Leão Dourado), a vegetação era típica de Mata Atlântica, com grandes Lecythidaceae, Fabaceae Moraceae e Malvaceae. Nas bordas dos fragmentos de mata, grandes concentrações de palmeiras (notoriamente Astrocaryum aculeatissimum) e grandes lianas lenhosas. Parecia haver alguma diferença entre sítios com declividades muito grandes e o resto.

Interessantemente, a vegetação não varia tanto, e na parte baixa (em Poço das Antas) havia um indivíduo de Jequitibá com >30 m de altura, além das mesmas famílias típicas da Mata Atlântica fluminense. O Rio São João é um correguinho preguiçoso com canal raso e que quase não mexe seus sedimentos, herdados de uma época anterior. Nos locais onde passava esse curso d'água, se desenvolvia alguma vegetação mais típica de solos arenosos, como Cyperus sp..
Já na ReBio União, alguns pontos contavam com turfeiras de metros de profundidade. Aí, se desenvolvia uma vegetação de pântano, dominada por Heliconia sp.

turfeira rebio_uniao
desenho APA_SJ

Publicado el 16 de junio de 2024 a las 05:28 AM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 29 observaciones | 0 comentarios | Deja un comentario

14 de junio de 2024

Escarpa Devoniana - Castro, PR

29 de Novembro de 2023

Na Rodovia Guataçara, ocorre o contato entre as formações do Grupo Iapó e Paraná (as rochas mais antigas da Bacia do Paraná, compostas de arenitos e conglomerados) e as rochas do Grupo Castro, formadas por basaltos e piroclastitos. Isso gera, além de uma imponente escarpa de arenitos mais resistentes, uma diferença importante na vegetação.

escarpa devoniana desenho

De acordo com o mapa de solos do Paraná, a parte alta se classifica como um Neossolo litólico, raso e com muitas características da rocha mãe (que no caso é quase desprovida de nutrientes); enquanto isso, a parte baixa é um Cambissolo húmico, muito rico em matéria orgânica (apesar de Distrófico). O clima é úmido, e fomos acompanhados durante a caminhada de uma garoa fina e cortante.

Na parte baixa (piedemonte), se vê uma mata de Araucária (Ombrófila mista) bem desenvolvida, com grandes indivíduos de A. angustifolia e outros gêneros como Cedrela e algumas Lauraceae. Porém, na parte alta, se desenvolve só uma vegetação rasteira, que nunca chega a 2m de altura. Os elementos que vi neste ponto tinham conexões com os Pampas e os Campos rupestres da Mantiqueira/Espinhaço. Isso é interessante pois muitas fontes (por exemplo o WWF) classificam toda essa região como uma mancha de Cerrado; talvez faça mais sentido considerar-se um campo rupestre.
Algumas espécies inclusive são encontradas também nos Andes! Por exemplo, Clethra scabra está presente nas regiões de Yunga altimontana do Perú e Bolívia.

Publicado el 14 de junio de 2024 a las 04:31 AM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 19 observaciones | 2 comentarios | Deja un comentario

03 de junio de 2024

Depressão Periférica Paulista - Cesário Lange SP

colinas cesario

Colinas baixas e preguiçosas, cobertas por solos distróficos: Argissolos Vermelho-Amarelos (profundos e lixiviados) e Cambissolos típicos (pouco desenvolvidos e com características da rocha original).

Esses solos provavelmente suportavam uma vegetação de Mata Estacional Semidecidual, como evidenciado por alguns exemplares de Tapirira guianensis e Alchornea triplinervia encontrados. Hoje em dia porém, sobraram poucos fragmentos e o que se vê são extensos monocultivos de milho e cana. Sem a cobertura de serrapilheira da floresta, a pequena camada de húmus que protegia o solo é rapidamente perdida e ele fica quase sem nutrientes. Nesse cenário, a fertilização intensa é necessária, que por sua vez lixivia a pequena lagoa adjacente à propriedade.

Publicado el 03 de junio de 2024 a las 04:50 AM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 8 observaciones | 0 comentarios | Deja un comentario

Cerrado em Itirapina, São Paulo

19 - 20 de Maio de 2023 Morro testemunho

À distância, um morro testemunho, sustentado por rochas vulcânicas Jurássico-Cretáceas. Esse morro é um pedaço que sobrou e, formado por rocha resistente, se destaca sobre os sedimentos do paleodeserto Botucatu.

A vegetação do Cerrado, com uma temporada úmida e outra seca, forma aqui latossolos vermelhos com profundezas de dezenas de metros. Nesses locais, a fisionomia campestre do Cerrado (um Campo Sujo nesse caso) se desenvolve lindamente. As plantas apresentam adaptações a essas condições, como sistemas radiculares muito profundos ou até caules completamente subterrâneos (Attalea e Andira humilis). Assim, as plantas podem buscar água nos lençóis freáticos profundos. Essa última é também uma adaptação para o fogo endêmico desse tipo de vegetação. Os frutos de Kielmeyera apresentam outra adaptação: suas cascas são resistentes ao fogo, que promove a germinação das sementes após as queimadas.

A vegetação da Estação Experimental Itirapina é classificada em 3 fitofisionomias de Cerrado: Cerradão, Campo Sujo, e Campo Úmido. Isso é diferente do que descrevem Tannus & Assis (2004), que não fala do Cerradão. Essa última se desenvolve próximo à Represa do Broa, em solos não alagáveis.

Viajei para essa localidade com o curso "Estruturas Reprodutivas de Angiospermas". Lá, estudamos a biologia reprodutiva de 10 espécies que estavam florindo neste momento. Meu grupo estudou em profundidade Cuspidaria pulchra, uma liana bignoniácea que se desenvolvia sobre as árvores da mancha de Cerradão. As espécies principais da área eram Xylopia aromatica, Dalbergia sp., Rapanea sp. e Moquiniastrum spp. . Observamos 3 indivíduos com várias inflorescências abertas, sendo que as inflorescências mais altas tinham mais flores (apesar de menos porcentagem aberta). Coletamos amostras e monitoramos visitantes florais por uma hora: observamos uma Polybia ignobilis realizando polinizações legítimas, uma abelha Oxaea sp. roubando néctar de flores ainda fechadas e uma Meliponini não identificada visitando flores já secas (não entendemos o que ela estava fazendo).

Observamos também a morfologia polínica, em Microscopia Eletrônica de Varredura. O pólen de Cuspidaria pulchra é disperso em mônade, que tem formato esférico-piriforme (portanto heteropolar) com razão L/E ~1. Ele é dotado de 3 colpos alongados longitudinalmente (lolongados), que não se fundem no ápice, sendo que as regiões entre esses colpos são lobos protuberantes. A abertura é psilada, sem nenhum tipo de opérculo ou conexões de exina, e no centro do colpo existe uma região com textura diferenciada, que pode ser o começo de uma germinação, um artefato ou uma característica única da espécie. A textura do grão como um todo é rugosa, mas sem nenhum tipo de estrutura bem definida. Com coloração Lugol e com Sudan-Black pudemos verificar que seu tipo de reserva é lipídica (Sudan-Black +). Essas características não são esperadas para o gênero Cuspidaria, pois Lohmann descreve como sinapomorfia a dispersão do pólen em tétrade.

. Um outro dado interessante está relacionado à ecologia comparada de outras lianas de savanas tropicais. Os dados de biologia reprodutiva de C. pulchra são similares aos de Mansoa hymenaea, Gmelina asiatica e Hewittia malabarica, que são lianas polinizadas por vespas e abelhas e nativas de savanas no México e Tailândia, respectivamente. desenho C_pulchra> <p>

Publicado el 03 de junio de 2024 a las 04:22 AM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 24 observaciones | 0 comentarios | Deja un comentario

09 de septiembre de 2022

História Natural de Ampheres

Dados ecológicos são muito importantes para a definição de histórias evolutivas de clados, mas esse tipo de informação está na maior parte do tempo ausente da literatura.
Como estou fazendo uma iniciação científica com o gênero de opiliões Ampheres Koch 1839 decidi anotar o pouco que anotei sobre sua ecologia ao longo desse tempo.

A princípio, fui informado que a subfamília Caelopyginae, na qual Ampheres é posicionada, era difícil de encontrar em coletas, talvez por ser rara ou habitar algum microhábitat específico. Ouvi de Ricardo que eles seriam mais arborícolas do que os outros opiliões, ficando menos ao alcance de coletas ativas. Ouvi de França que já os tinha encontrado em bromélias durante o dia.
Quando fui em coleta ao Paraná (região de Morretes, no litoral, e Campina Grande do Sul, na serra) não encontrei um único indivíduo dessa subfamília (sendo que teoricamente ocorrem pelo menos 4 espécies na região). As buscas seguiram o roteiro corriqueiro para aracnídeos, passando próximo a córregos e pequenas a grandes cachoeiras.

No PNItatiaia, encontrei meu primeiro Ampheres, um A. luteus ! Primeiro Ampheres
Ele estava sob a folha de uma Siparunaceae (?) mais alta do que eu. O ambiente era uma trilha do parque, delimitada de um lado por um paredão sienítico e do outro pelo próprio rio Itaporani. Nesse trecho de terra havia algumas árvores pequenas que deviam receber muita luminosidade rante o dia. Nos outros dias desse campo, encontrei mais mais 3 indivíduos dessa espécie: um estava no mesmo ambiente, a poucos metros de distância; os outros estavam em outra trilha que era uma descida íngreme. Árvores altas cobriam mais o dossel do que na trilha do Itaporani e eu encontrei um dos animais na face abaxial (que estava voltada para a frente) de outra folha, em um local presumivelmente bem sombreado; e o outro em uma folha seca de palmeira (Provavelmente Juçara, que era dominante no local), na beira da trilha onde bateria um pouco mais de sol durante o dia.

Em uma outra viagem, para o PEIntervales, coletei 3 indivíduos juvenis de A. leucopheus e uma adulta em Guarda-Chuva Entomológico, na folhagem de Piperáceas. Todos esses estavam na borda de trilhas largas, em arbustos que com certeza recebiam bastante sol durante o dia. carnudo macetando plantas

França coletou para mim mais 7 indivíduos na Praia da Mambucaba, no PNSBocaina. Ele relatou que os indivíduos (5 machos e 2 fêmeas) estavam nas bordas de uma clareira na mata. Esse foi o único relato direto de muitos indivíduos no mesmo local.

Todas essas observações me fizeram pensar em uma hipótese: talvez os indivíduos de Ampheres tenham um hábito menos críptico do que outros Gonyleptidae. Além disso, é possível que sua coloração amarela, compartilhada pela maioria dos outros Caelopyginae, esteja relacionada a esse hábito peculiar. Isso se sustenta pois outros membros dessa subfamília que observei (principalmente Pristocnemus pustulatus em Intervales) apresentavam o mesmo padrão. Isso explicaria também porque eles são relativamente raros em coletas: as buscas ativas mais comuns preferem ambientes mais fechados e sombreados.

Porém ainda sobram algumas questões: percebi que o tamanho do olho dos Ampheres varia consideravelmente. Ainda precisaria fazer medições mais precisas e ver se há variação entre as espécies para afirmar algo, mas a princípio esse caracter pode indicar hábitos de vida diversos.

Em relação aos caracteres propostos por Machado et al. 2012:

  • Não foi observado cuidado parental em nenhum caso.
  • Não foi observada secreção em gotas conspícuas
  • Não foi observado nenhum indivíduo se alimentando
  • Para os A. leucopheus de Intervles, aparentemente folhagem de sub-bosque ("alta") é tanto o local de "sheltering" quanto o de forrageamento noturno.
Publicado el 09 de septiembre de 2022 a las 09:03 PM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 2 observaciones | 0 comentarios | Deja un comentario

07 de febrero de 2022

Dia 1 - Cabo do Cogumelo - Ubatuba, SP

Nas últimas semanas tenho estado muito interessado por escrita naturalista, e decidi que deveria começar a experimentar eu mesmo. Pelo que vi, poucos foram os naturalistas brasileiros que descreveram os ambientes nacionais, menos ainda com a minúcia de alguns autores do gênero nascidos na América do Norte e Europa.
Semana passada estive em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo, e me dispus a registrar profundamente uma pequena faixa de mata, situada em um pequeno cabo entre a Praia do Lázaro e a Praia Domingas Dias. Há uma trilha que começa por entre as pedras do costão rochoso no extremo leste da Domingas Dias, dando acesso à mata do cabo. Como não tinha ainda um nome, decidi apelidá-lo de "Cabo do Cogumelo", pois da primeira vez que visitei o local (set/2020) o que mais me chamou atenção foi a grande quantidade de fungos saprófitos. O cabo é rodeado por pedras de tamanhos variáveis e é formado por um morro de ~40m de altura.

mapa do cabo
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LOCAL 1 Para entrar na trilha é preciso passar por cima das pedras do costão Rochoso, que apresentam algumas características interessantes. Poucos organismos são encontrados nas rochas, fora alguns gastrópodes e Ligia sp., alojados em uma rachadura. Essa rachadura, assim como a maioria das outras, parecem ser formadas pela intemperização de estrias nas rochas, que apresentam cor mais clara do que o restante do substrato. Um pouco mais para cima no costão, me aproximando da mata, percebi que a comunidade de organismos é bem atípica para praias arenosas, e já começa a apresentar características de uma comunidade da mata! Em primeiro lugar, há uma espécie de Poaceae que se fixa bem nas rochas e que não encontrei em nenhum outro local; mas também percebi que as poças de água nas concavidades das rochas abrigam água doce e organismos que habitariam poças de água em uma floresta - principalmente larvas de mosquito.
Passando pelas pedras, cheguei rapidamente em solo terroso, que não mostrava traços da arenosidade da praia. Nesse local, podemos ver uma comunidade de plantas afeitas à luz plena:
monocot com flor Monocotiledônea com flores (Bambusoideae?) https://www.inaturalist.org/observations/106053403
cogumelinho Cogumelo pequeno https://www.inaturalist.org/observations/106053294
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LOCAL 2 Entrei na mata em si. O tamanho das árvores mais altas é de ~10m, com algumas árvores emergentes - principalmente palmito-Juçara. A mata parece muito bem preservada, o que faz sentido considerando que trata-se de uma região de difícil acesso e difícil de construir. A maior perturbação é a presença de uma espécie exótica de Araliaceae (provavelmente Heptapleurum actinophyllum). O estrato herbáceo é dominado por bambus e samambaias:
olyra Bambu do gênero Olyra ("or other related herbaceous bamboo" segundo M. Vorontsova) https://www.inaturalist.org/observations/105987944

anemia Samambaia do gênero Anemia https://www.inaturalist.org/observations/105988582

Uma planta do sub-bosque me chamou a atenção especificamente: ela é repleta de espinhos nos nós e apresenta frutas semitranslúcidas de cor branca a vermelha. Ainda não identifiquei. https://www.inaturalist.org/observations/105987732
frutinhas espinhos

Vi também alguns animais nesse trecho:
trigona .................................. Cyllopoda

Abelha Trigona https://www.inaturalist.org/observations/105988009 ................................ Borboleta Cyllopoda https://www.inaturalist.org/observations/106053254

Uma formiga me chamou a atenção: ela parecia de longe uma Ponerini comum, mas uma olhada mais atenciosa me fez perceber que seu comportamente era igual ao de uma vespa, principalmente na erraticidade, solitariedade e o movimento das antenas, que eram muito laranjas. Pensei que fosse uma vespa mimetizando uma formiga (como Mutilidae) mas também pode ser uma formiga mimetizando uma vespa. Seus movimentos erráticos impediram que eu tirasse uma boa foto. https://www.inaturalist.org/observations/106052850

Uma espécie de lagarta Geometridae me chamou atenção também pela quantidade (observei por volta de 5). Pensei que elas pudessem estar se preparando para pupar e uma delas estava pendurada por um fio de seda.
trigona https://www.inaturalist.org/observations/106053128

Observando palmeiras jovens, bastante presentes no estrato herbáceo da mata, percebi algo sobre seu ciclo de vida: Os indivíduos jovens apresentam folhas mais simples que, após chegarem a um tamanho máximo (ou após um número determinado de folhas jovens?) dão lugar às folhas típicas de palmeira, compostas por vários folíolos finos em uma raque. A partir apenas dos juvenis, foi possível diferenciar as duas espécies de palmeira que observei: Euterpe sp. apresentava juvenis com folhas simples, com formato e venulação típicas de monocotiledônea e com tamanhos de até 50cm;
euterpe bebe https://www.inaturalist.org/observations/106326862

a outra espécie (https://www.inaturalist.org/observations/105988065), que tem adultos de 2m e espinhos em todo o tronco e folhas, apresenta juvenis com folhas compostas por 2 folíolos apenas e espinhos desde esse estágio.
palmeira espinhuda bebe https://www.inaturalist.org/observations/106327174

Neste local também, observei os cogumelos que dão nome ao cabo! A maioria do que vi estavam se alimentando de troncos caídos.
Trametes Lentinus mycena hygrocybe
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LOCAL 3
Seguindo a trilha, me deparei com um paredão de rocha exposta, de aproximadamente 1 metro de altura. Para escalar o morro, seria necessário subir nele e no barranco íngrime que segue, mas eu não tinha equipamento adequado. Nos espaços de terra do barranco se alojavam algumas espécies de samambaia e ao pé do barranco, uma palmeira da espécie espinhuda:
palmeira espinhuda https://www.inaturalist.org/observations/105988065

Publicado el 07 de febrero de 2022 a las 06:35 PM por luisfelipe4 luisfelipe4 | 16 observaciones | 1 comentario | Deja un comentario

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